Esse danado do meu fio já nasceu com um parafuso a menos e ninguém me tira da cabeça que ele foi gerado no dia em que o circo passou aqui pela cidade. Naquela noite eu levei minha esposa para ver o espetáculo e me lembro que ela riu tanto do show dos palhaços, que chegou a se urinar de tanto gargalhar. Ficou morta de vergonha, que teve que ir no banheiro se limpá. Quer dizer, banheiro, banheiro não era. Esse povo de circo é tudo nômade. Mas, a verdade é que ela sumiu por mais de uma hora. Não viu o resto do espetáculo. Eu fiquei esperando, assistindo ao mágico, ao domador... que até esqueci do tempo. Ela me disse que se perdeu e não encontrou nenhum banheiro. Se não fosse um palhaço bondoso, que apareceu e ofereceu pra ela usar o banheiro do furgão dele, a pobrezinha tinha voltado toda suja. Mas, como tudo na vida se ajeita, ela apareceu no final do show: limpinha, sorrindo e satisfeita. Como ela só viu o show dos palhaços e ainda fez amizade com um deles, eu acho que isso influenciou no momento da concepção do nosso filho, que nasceu nove meses depois gargalhando como um anormal. Minha mulher, naquele dia, deve ter ficado tão cheia de graça, que engravidou; e o menino só foi entender a piada nove meses depois. Francamente, eu não sei do que é que ele acha tanta graça. Mas, na hora de batizar, eu não tive nenhuma dúvida quanto ao nome. Batizei como Hilário. Hilário Dias dos Santos, que via graça em tudo.
Trecho do meu espetáculo teatral "Um jeito matuto de ser" (uma comédia musical), escrito em parceria com Rogério Favoretto