No domingo passado, estava conversando, em um grupo de amigos, e começamos a discorrer sobre a inveja. Me lembro de ter comentado que também existe o sentimento de admiração, disfarçado de inveja. É quando alguém declara abertamente: - Puxa, eu te invejo por isso!”
Na verdade, o que estamos querendo dizer, geralmente, é que invejamos a realização da pessoa. Mas, não significa que queremos ser como ela.
A verdadeira inveja, a inveja perversa, é aquela em que a pessoa “quer a vida da outra”, a ponto de se tornar destrutiva, com pensamentos do tipo: “se isso não for meu, não será de mais ninguém!”
Alguém rebateu com o seguinte argumento: Não acho isso saudável; esse papo de “boa inveja”.
Inveja é inveja, e pronto! Se a pessoa tem admiração pela outra, deve dizer que admira, no lugar de dizer que tem inveja. Não acho “politicamente correto” usar a palavra inveja como se fosse um elogio.
Foi então que lembrei de um episódio, em que o poeta Carlos Drummond de Andrade encontrou o compositor Nelson Cavaquinho, e se rendeu ao talento do sambista com o seguinte comentário:
- Nelson, sabe aquele trecho do seu samba, a flor e o espinho, que diz “eu só errei quando juntei minha alma à sua. O sol não pode viver perto da lua”? Pois é, Nelson! Eu morro de inveja daquele verso. Eu queria tanto ter escrito isso!
Imagino o quanto este comentário, vindo de um poeta tão renomado como o Drummond, deve ter feito bem à auto estima daquele sambista do morro, humilde e introvertido. Ele deve ter se sentido muito bem com esse tipo de comentário. E, não poderia ter sido dito de melhor maneira.
Eram tempos em que o coração, e não o moralismo, pesava as palavras. E Drummond sabia disso, como ninguém.
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