Meu nome é Emilio Gahma. Nasci em 1963 e poderia dizer, se tivesse sido um pouco mais apressado ao nascer, que faço parte da geração dos anos sessenta, que tentou mudar o mundo. Mas, não. Não sou dessa geração.
Sou da geração que pegou a
ressaca desta tentativa de mudança. No lugar de ter curtido a jovem guarda ou
de ter participado do movimento estudantil, de ter colocado uma mochila nas
costas e ter declarado que liberdade era uma calça velha azul e desbotada, eu
vesti, na minha adolescência, uma calça de último tipo, coloquei suspensórios,
sapato bico fino, e fui rebolar numa discoteca ao som dos Bee Gees, imitando o
John Travolta.
É dessa geração que eu sou. Sou
um herdeiro de tudo o que restou dos anos sessenta. Vivi os anos setenta e
oitenta, sempre ouvindo que nos anos sessenta tudo tinha sido intenso e
maravilhoso. Que nos anos sessenta nós descobrimos a liberdade sexual,
quebramos tabus, queimamos sutiãs, etc.
Tudo deve ter sido, sem dúvida,
intenso e maravilhoso. Mas, até hoje, a melhor frase que define essa época é:
“Se você lembra dos anos sessenta, é porque você não estava lá”.
Mais do que uma máxima irônica e
venenosa, essa frase me lembra do velho provérbio chinês: “A brincadeira é um
furinho por onde, às vezes, a verdade escapa”.
Como herdeiro dos hippies e da
contracultura, não vou cuspir no prato em que comi, mas é preciso entender que
o estilo de vida e a busca da juventude daquela época era inocente e não havia
se rendido às leis do capitalismo que tanto combateu.
Para quem pensa, de forma muito
equivocada, que a juventude dos anos sessenta foi derrotada em seu idealismo, e
na tentativa de mudar o mundo, vale lembrar: eles venceram!
Quando os Rolling Stones cantaram
“Time is on my side”, estavam sendo proféticos. E aí está!
A única surpresa é que eles não
tinham a menor idéia do que estavam pedindo, mas o que queriam, aí está.
Um mundo sem fronteiras, com
todos falando a mesma língua, como Lennon “imaginava” já é uma realidade graças
a Internet. Daí pra frente, é só colocar a imaginação para funcionar.
Como herdeiro dos anos sessenta,
reclamo e assumo a minha herança. Como herdeiro da ditadura militar, me rendo à
minha ignorância. Mas, eu quero a minha liberdade.
E quando falo dela, reclamo de
uma necessidade ancestral. Nessa hora eu sou um dos gladiadores de Espartaco,
que marchou contra Roma ciente de que seria derrotado, mas na esperança de
vencer ou morrer livre.
Nessa hora eu torço o nariz para
alguns “intelectualoides” que sempre ficaram em cima do muro, parodiando
Einstein, dizendo “tudo é muito relativo”... ”Ou não.”
Hoje nós temos o que pensamos ser
liberdade, mas nem sabemos o que fazer com ela.
O trem saiu dos trilhos e
transita por uma linda estrada colorida e florida, com suas rodas de ferro
destruindo as flores e os vagões descarrilhados.
Não é culpa dos anos sessenta nem
da ditadura militar. É culpa nossa. Estamos com o bolso cheio, mas não sabemos
como usar a nossa herança: a dos nossos ancestrais e, mais diretamente, a dos
nossos pais.
Eu não quero jogar pedra na cruz
nem julgar, porque um dos meus ancestrais me ensinou a não julgar para não ser
julgado, e eu valorizo tudo de bom que herdei. Mas, eu ouço lamentos, e tenho
que fazer uso da minha liberdade para “escolher” me posicionar. Sem julgar, mas
disposto a avaliar e fazer algo a respeito.
Foi por essa razão que,
finalmente, resolvi escrever um blog.
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