terça-feira, 29 de setembro de 2015

Plínio Marcos


Hoje faz 80 anos que o Plínio Marcos nasceu. Visceral, risonho, e inquieto. Escrevia para incomodar! Para nos despertar. Sem luxo, sem firulas ou rodeios. Era direto, seco e jornalístico.
Eu o conheci quando ainda era adolescente. Ele foi na minha escola, apresentar “Quando as máquinas param”, um dos seus vários sucessos. Ao final, realizou um debate conosco. Me lembro que ri muito, e chorei. Ele fez o que queria com a nossa emoção. Tinha domínio sobre o público. Me emocionei com aquele baixinho invocado, desbocado e carismático.
No final ele nos disse: - Se eu conseguir sair daqui, hoje, tendo subvertido algum de vocês, já terei cumprido minha missão!
Saí subvertido! Aquela inquietação bateu em mim, me identifiquei.
Pouco depois, por diversas razões, e inspirado também por outras pessoas, comecei a estudar teatro. Comecei a frequentar a livraria do INACEN, que funcionava no Teatro de Arena. Cansei de encontrá-lo por lá. A Beth, que atendia a livraria, guardava sempre as coisas dele.
Nós também nos encontrávamos, vez ou outra, na porta dos teatros, onde ele vendia seus livros, e vinha sempre com o mesmo argumento:
- Compra meu livro que eu te dou um autógrafo, e prometo morrer logo, para valorizar.
- Plínio, tu autografa todos os teus livros. Daqui a pouco, raridade será ter um livro teu que não tenha autógrafo!
Ele, que era rápido de raciocínio, rebateu “na lata”: - Sabe que tu tens razão! Vou passar a cobrar mais pelos livros sem autógrafo.
Em 1985, teve o projeto "Balanço Geral", no Teatro Maria Della Costa, onde foram feitas leituras dramáticas dos principais espetáculos censurados nas últimas décadas. Após as leituras, eram feitos debates e, quando possível, reuniam o elenco original, para dar seu depoimento sobre esta época, em que a censura era ferrenha e atacava o teatro com tudo.
Fui em quase todas essas leituras e, no dia em que leram a "Feira Paulista de Opinião", que apresentava algumas peças curtas dos autores mais polêmicos da época, eu estava na plateia. Uma das peças apresentadas era do Plínio, e ele colocou um gorila, em cena, vestido de militar. Essa cena foi muito comentada durante o debate. Me lembro que, no instante em que o ator Renato Consorte (que havia interpretado o gorila) estava dando o seu depoimento, alguém chegou com a notícia de que o Plínio tinha sofrido um enfarte. O teatro, imediatamente, esvaziou. Todos, preocupados, foram para o hospital, prestar sua solidariedade à família, e ajudar como podiam. Plínio era muito querido por todos. A classe teatral o amava e admirava. E as preces dos amigos foram atendidas. Ele escapou desta.
Em  1999, ele se foi. Me lembro que, nesta época, estava trabalhando como executivo, afastado do teatro há algum tempo, quando lí a notícia pela internet.
- Droga, o Plínio Marcos morreu!
- Quem morreu, Emilio? Me perguntou o meu chefe.
- O Plínio Marcos. Um escritor de teatro.
- Puxa, que pena! Disse o meu chefe, com uma indiferença que chegou a me chocar. Afinal, não era qualquer um que tinha morrido. Foi o Plínio! Meu chefe voltou a passar por minha sala e, ao me ver chorando, quieto, no meu canto, comentou:
- Era seu amigo? Me desculpe, eu não sabia.
- Não tem importância! Não tem mais importância! Respondi, quieto e envergonhado por estar tão distante do teatro, naquela época. Li, na notícia, que ele já andava doente há algum tempo; e eu nem sabia.
Fiquei ali, naquele final de tarde, pensando naquele garoto que o Plínio subvertera, e despertou para as suas lutas cotidianas, contra o embrutecimento do homem. Não demorou nem um ano, e eu saí do emprego e voltei a me envolver novamente com o teatro. Não era mais o mesmo, mas estava de volta. Não voltei por causa do Plínio, é claro. Voltei porque precisava voltar a respirar. Voltei porque aquela parte macia, existente no coração embrutecido de cada homem, da qual o Plínio sempre falava, voltou a incomodar.
Fico imaginando como o Plínio estaria, agora, aos oitenta anos. Em quantas pessoas ainda estaria subvertendo. Hoje, mais do que nunca, ele faz falta!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Além das aparências


"Quer escolher moça bonita? Procure durante a semana.
Porque, de sábado para domingo, toda raposa engana!"

Escutei essa  frase dita pela minha esposa, Maria Ceiça, numa conversa que tivemos durante uma aula de nosso grupo de estudos do Tao, com a Mestra Yu Pi Yueh. Estávamos falando sobre o que é mutável e o imutável. Em determinado momento, o assunto enveredou para a questão das aparências, e em como as pessoas, cada vez mais, estão editando seu perfil, até chegarem ao ponto de não conseguirem mais se reconhecer. E ela me veio com essa frase, que seu avô paterno, filho de índia, costumava dizer. Achei o máximo, principalmente porque dei a sorte de conhecê-la durante a semana.

A sabedoria dos antigos é uma preciosidade, principalmente quando percebemos o quanto de suas lições nos foram passadas de forma natural, e ainda vivem em nós, nos mínimos detalhes do nosso comportamento. E foi o que percebi, naquela hora. No porque ela é tão exigente com a questão da honestidade.

O poder de uma boa história é incalculável. Acho que é por isso que gosto tanto de contar e ouvir um bom "causo".
Para resumir, no final da aula minha esposa encerrou nos contando, também, uma história que ela considerou muito "manjada", mas que para mim, era novidade: A história da mais bela flor.
Gostei tanto que a adaptei, criando alguns elementos que não existem na história e ressaltando alguns pontos que julguei mais relevantes.

Conta que um rei, procurando por uma esposa com as melhores qualidades, pediu que as candidatas se apresentassem. Duas nobres e belas donzelas da corte, consideradas as mais formosas entre todas as mulheres da cidade, se apresentaram imediatamente. As outras nem tiveram coragem de disputar tal previlégio, contra tão dignas concorrentes.
O rei, ao recebê-las, perguntou a todos os presentes, em voz alta: - Nenhuma outra mulher, em todo o meu reino, se julga digna de ser a minha rainha?
Uma jovem faxineira, que estava nos bastidores, ao ouvir tais palavras, se apresentou:
- Me acho digna, Senhor! Pelo que sou e sei, mas não pelo que tenho.
- Nem o teu rei, com toda a sinceridade deste mundo, é capaz de saber realmente todo valor daquilo que tem. Se te achas digna, pelo que és, então eu te aceito entre minhas pretendentes.
Então, o rei propôs uma prova às três candidatas:
- Eis aqui três sementes, da mais bela flor que encontrei. Levem-nas consigo e cuidem para que floresçam belas e formosas. Aquela que trouxer, dentro de um mês, a flor mais bem cuidada, será a minha rainha. 
Um mês depois as três se apresentaram diante do monarca. As duas nobres trouxeram duas belas flores, bem cuidadas e ornadas, dentro de belos vasos, com toda a pompa e luxo. A jovem faxineira veio com um vaso rústico e vazio. Foi então que o rei a questionou:
- Tens coragem de te apresentar diante de mim, com um vaso vazio?
- Sim, meu rei, tenho. Cuidei da semente que me destes com amor e dedicação, acreditando que, diante dos céus, poderia ser abençoada, com uma bela e formosa  flor. Mas, os céus e a natureza não me responderam nem com o mais simples botão. Venho, diante de vós, me apresentar com nada, para confirmar que as pessoas recebem de Deus o seu justo merecimento. E para conhecer quem é a mais digna de nós três, para ser a minha rainha. Pois a ela eu saudarei, e saberei que foi a mais digna de todas as bençãos.
O Rei ordenou que lhe trouxessem um espelho, e o entregou à jovem:
- Contempla então, o rosto de tua rainha, que é a mais abençoada entre todas as mulheres deste reino. Entreguei a vocês três sementes estéreis, incapazes de florecer, apesar dos melhores cuidados. Só tú és digna de ocupar o trono ao meu lado. És a mais formosa entre todas, pois me destes a mais belas de todas as flores. A da honestidade!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Reflexões de um sete de setembro


Meu sete de setembro começou com fé! Com um trecho da "Carta de Paulo aos Coríntios", tão enigmático, quanto verdadeiro (até mesmo para um sete de setembro chuvoso)!


Mas, o Mundo me fez lembrar do menino sírio Aylan Kurdi. Me bateu uma tristeza, misturada com revolta.



terça-feira, 1 de setembro de 2015

A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS


Em uma época onde as pessoas formam clubes, diversas tribos, e julgam que suas facções são as únicas que possuem a verdade absoluta; onde as pessoas discriminam uma às outras por discordarem de seus paradigmas, acho fundamental postar o discurso de Krishnamurti, ao dissolver a Ordem da Estrela, em 1929. Antes, porém, é necessário conhecer mais sobre este que, um dia, foi considerado pelo Teosofistas, como um dos futuros Mestres do Mundo.

Jiddu Krishnamurti (telugu: జిడ్డు కృష్ణ మూర్తి) (Madanapalle, 11 de maio de 1895 — Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global.
Com a idade de treze anos, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo. Em Adyar, Krishnamurti, foi 'descoberto' por Charles W. Leadbeater, famoso membro da Sociedade Teosófica (ST), em abril de 1909, que, após diversos encontros com o menino, viu que ele estava talhado para se tornar o 'Instrutor do Mundo', acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Após dois anos, em 1911 foi fundada a Ordem Internacional da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, que tinha como objetivo reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento e preparar a opinião pública para o seu aparecimento, com a doação de diversas propriedades e somas em dinheiro. Em 3 de agosto de 1929, dia da abertura do Acampamento Anual da Estrela, em Ommen, Holanda, Krishnamurti dissolveu a Ordem diante de 3.000 membros, alegando que nenhuma instituição pode nos levar mais próximos da verdade. Abaixo está o texto completo da palestra que ele deu naquela ocasião.


A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS
(O discurso da Dissolução)

Jiddu Krishnamurti

O Acampamento de Ommen em 1929 iniciou seus trabalhos no dia 2 de agosto numa atmosfera de tensão e expectativa, quando a maioria das pessoas ali presentes compreendia o que ia acontecer. Na manhã seguinte, em presença da Sra. Besant, de mais de três mil membros da Estrela, e com muitos milhares de holandeses ouvindo pelo rádio, Krishnamurti fez o discurso em que dissolveu a Ordem da Estrela:

“Vamos discutir hoje a dissolução da Ordem da Estrela. Muitos ficarão encantados, tristes. Não se trata, porém, de uma questão de regozijo nem tristeza, porque é inevitável, como passarei explicar...
Sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vós não podeis aproximar-vos dela por nenhum caminho, por nenhuma seita. Esse é o meu ponto de vista e eu o sigo de modo absoluto e incondicional. Não tendo limites, não sendo condicionada e não sendo acessível por nenhuma espécie de caminho, a Verdade não pode ser organizada; nem se deve formar nenhuma organização para levar ou forçar as pessoas a enveredar por determinado caminho. Se compreendeis isso em primeiro lugar, vereis que é impossível organizar a crença. A crença é uma questão puramente individual, e não podeis nem deveis organizá-la.
Se o fizerdes, ela morrerá cristalizar-se-á; tornar-se-á um credo, uma seita, uma religião, para ser imposta a outros. Isso é o que toda a gente, no mundo inteiro, está tentando fazer. Acanha-se a Verdade e transforma-se em brinquedo para os fracos, para os momentaneamente insatisfeitos. A Verdade não pode ser trazida cá para baixo, o indivíduo é que deve fazer um esforço para subir até ele. Não podeis trazer o topo da montanha ao vale...
Portanto, esta é a primeira razão, do meu ponto de vista, pela qual a Ordem da Estrela deve ser dissolvida. Apesar disso, formareis provavelmente outras Ordens, continuareis a pertencer a outras organizações à procura da Verdade. Não quero pertencer a nenhuma organização espiritual; compreendei-me isso, por favor...
Se se criar uma organização com esse propósito, ela se tornará uma muleta, uma fraqueza, uma servidão, estropiará o indivíduo e o impedirá de crescer, de firmar sua unicidade, que reside no descobrimento, para si mesmo, da Verdade absoluta, não condicionada. Portanto, essa é outra razão que me leva, como chefe da Ordem, a querer dissolvê-la.
Não se trata de um feito magnífico, porque não quero seguidores, e estou falando sério. A partir do momento em que seguirdes alguém deixareis de seguir a Verdade. Não me preocupa saber se prestais ou não atenção ao que digo. Quero fazer certa coisa no mundo e vou fazê-la com pertinaz concentração. Só me preocupa uma coisa essencial: libertar o homem. Desejo libertá-lo de todas as gaiolas, de todos os temores, e não fundar religiões, novas seitas, nem estabelecer novas teorias e novas filosofias. Diante disso, perguntar-me eis, naturalmente, por que percorro o mundo todo, falando sem parar. Eu vos direi por que o faço; não o faço por desejar um séquito, não o faço por almejar um grupo especial de discípulos especiais. (Os homens gostam de ser diferentes dos seus semelhantes, por mais ridículas, absurdas e triviais que possam ser as distinções! Não quero estimular essa absurdeza.) Não tenho discípulos, nem apóstolos, nem na terra nem no reino da espiritualidade.
Tampouco me atrai o fascínio do dinheiro ou o desejo de levar urna vida confortável. Se eu quisesse levar uma vida confortável, não viria a um Acampamento nem viveria num país úmido! Estou falando com franqueza porque pretendo deixar isto resolvido de uma vez por todas. Não quero saber dessas discussões infantis ano após ano. Um repórter de jornal, que me entrevistou, considerou um ato magnífico dissolver uma organização que possuía milhares e milhares de membros. No seu entender foi um grande ato porque ele disse: "Que fará o senhor depois disso? Como viverá? Não terá quem o siga, ninguém mais lhe dará atenção.” Bastará que haja cinco pessoas desejosas de prestar atenção, desejosas de viver, com o rosto voltado para a eternidade! Que adianta ter milhares que não compreendem, que estão totalmente embalsamados em preconceitos, que só querem o novo para traduzi-lo e, assim, adequá-lo aos seus próprios egos estéreis e estagnados?...
Porque sou livre, não condicionado, total, não a parte, não o relativo, mas a Verdade total, que é eterna, desejo que os que procuram compreender-me sejam livres, não me sigam, não façam de mim a gaiola que se converterá em religião, em Seita. Desejo que sejam livres de todos os medos – do medo da religião, do medo da salvação, do medo da espiritualidade,
do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida. Assim como o
artista pinta um quadro por encontrar deleite na pintura, por ser ela a expressão de si mesmo, sua glória, seu bem-estar, assim não faço isto por desejar alguma coisa de alguém. Estais acostumados à autoridade, ou à atmosfera da autoridade que, cuidais, vos levará à espiritualidade. Pensais e esperais que outra pessoa, por seus poderes extraordinários – um milagre – possa transportar-vos ao reino da liberdade eterna que é a Felicidade. Toda avossa maneira de encarar a vida se baseia nessa autoridade.Faz hoje três anos que me ouvis, sem que nenhuma alteração se tenha verificado, a não ser em poucos. Analisai agora o que estou dizendo, sede críticos, para poderdes compreender cabalmente, fundamentalmente...
Há dezoito anos que vos preparais para este acontecimento, para o Advento do Mestre Universal. Durante dezoito anos organizastes alguém capaz de proporcionar um novo deleite aos vossos corações e às vossas mentes, de transformar a vossa vida, de dar-vos uma nova compreensão; alguém que vos elevasse a um novo plano de vida, que vos desse um novo incentivo, que vos libertasse – e vede agora o que está acontecendo! Considerai, raciocinai e descobri como foi que essa crença vos tornou diferentes – não com a diferença
superficial do uso de uma insígnia, que e' trivial, absurda. Como foi que essa crença varreu para longe todas as coisas não essenciais da vida? Esta é a única maneira de julgar: como foi que vos tornastes mais livres, maiores, mais perigosos para toda sociedade que se baseia no falso e no não essencial? Como foi que se tornaram diferentes os membros desta organização da Estrela?...
Todos dependeis, para a vossa espiritualidade, de outra pessoa; para a vossa felicidade, de outra pessoa; para a vossa iluminação, de outra pessoa... Quando digo buscai dentro de vós a iluminação, a glória, a purificação e a incorruptibilidade do ego, nenhum de vós se dispõe a fazê-lo. Talvez haja uns poucos, mas são muito, muito poucos. Assim sendo, por que ter uma organização?... Nenhum homem de fora pode libertar-vos; nem o culto organizado, nem a vossa imolação por uma causa poderão libertar-vos; como também não poderá libertar-vos o ingresso numa organização, o envolvimento no trabalho. Usais uma máquina de escrever para redigir cartas, porém não a colocais num altar e não a adorais. Mas é isso o que fazeis quando as organizações passam a ser vossa principal preocupação. "Quantos membros há nela?" É a primeira pergunta que me formulam todos os repórteres de jornais. "Quantos seguidores tem o senhor? Pelo número deles julgaremos se o que diz é' verdadeiro ou falso." Não sei quantos há. Não me preocupo com isso. Se houvesse apenas um homem que se tivesse libertado, este já seria o suficiente.
Além disso, tendes a ideia de que somente certas pessoas tem a chave do Reino da Felicidade. Ninguém a tem. Ninguém tem autoridade para trazê-la consigo. Essa chave é o vosso eu, e só no desenvolvimento, na purificação e na incorruptibilidade desse eu se encontra o Reino da Eternidade...
Estais acostumados a que vos digam até onde chegou o vosso progresso, qual o vosso status espiritual. Quanta infantilidade! Quem, se não vós mesmos, podeis dizer se sois ou não incorruptíveis?...
Mas os que realmente desejam compreender, que estão buscando o eterno, o sem começo e sem fim, caminharão juntos com maior intensidade, serão um perigo para tudo o que não é essencial, as irrealidades e as sombras. E eles se concentrarão, tornar-se-ão a chama, porque compreendem. Tal é o corpo que precisamos criar e tal é o meu propósito. Por causa dessa amizade verdadeira – que pareceis não conhecer – haverá uma cooperação verdadeira da parte de cada um. Não em virtude da autoridade, não em virtude da salvação, mas porque compreendeis realmente e, portanto, sois capazes de viver no eterno. Isto, sim, é maior do que todo o prazer, do que todo o sacrifício.
Eis aí, portanto, algumas das razões por que, depois de dois anos de cuidadosaconsideração, tomei essa decisão. Ela não partiu de um impulso momentâneo. Ninguém me persuadiu a tomá-la – ninguém me persuade a fazer essas coisas. Por dois anos venho pensando nisso, lenta, cuidadosa, pacientemente, e agora decidi dissolver a Ordem, visto que sou o Chefe. Podereis formar outras organizações e esperar outra pessoa. Isso não me interessa, como também não me interessa a criação de novas gaiolas e novas decorações para as gaiolas. Minha preocupação é formar homens absoluta e incondicionalmente livres.