sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Além das aparências


"Quer escolher moça bonita? Procure durante a semana.
Porque, de sábado para domingo, toda raposa engana!"

Escutei essa  frase dita pela minha esposa, Maria Ceiça, numa conversa que tivemos durante uma aula de nosso grupo de estudos do Tao, com a Mestra Yu Pi Yueh. Estávamos falando sobre o que é mutável e o imutável. Em determinado momento, o assunto enveredou para a questão das aparências, e em como as pessoas, cada vez mais, estão editando seu perfil, até chegarem ao ponto de não conseguirem mais se reconhecer. E ela me veio com essa frase, que seu avô paterno, filho de índia, costumava dizer. Achei o máximo, principalmente porque dei a sorte de conhecê-la durante a semana.

A sabedoria dos antigos é uma preciosidade, principalmente quando percebemos o quanto de suas lições nos foram passadas de forma natural, e ainda vivem em nós, nos mínimos detalhes do nosso comportamento. E foi o que percebi, naquela hora. No porque ela é tão exigente com a questão da honestidade.

O poder de uma boa história é incalculável. Acho que é por isso que gosto tanto de contar e ouvir um bom "causo".
Para resumir, no final da aula minha esposa encerrou nos contando, também, uma história que ela considerou muito "manjada", mas que para mim, era novidade: A história da mais bela flor.
Gostei tanto que a adaptei, criando alguns elementos que não existem na história e ressaltando alguns pontos que julguei mais relevantes.

Conta que um rei, procurando por uma esposa com as melhores qualidades, pediu que as candidatas se apresentassem. Duas nobres e belas donzelas da corte, consideradas as mais formosas entre todas as mulheres da cidade, se apresentaram imediatamente. As outras nem tiveram coragem de disputar tal previlégio, contra tão dignas concorrentes.
O rei, ao recebê-las, perguntou a todos os presentes, em voz alta: - Nenhuma outra mulher, em todo o meu reino, se julga digna de ser a minha rainha?
Uma jovem faxineira, que estava nos bastidores, ao ouvir tais palavras, se apresentou:
- Me acho digna, Senhor! Pelo que sou e sei, mas não pelo que tenho.
- Nem o teu rei, com toda a sinceridade deste mundo, é capaz de saber realmente todo valor daquilo que tem. Se te achas digna, pelo que és, então eu te aceito entre minhas pretendentes.
Então, o rei propôs uma prova às três candidatas:
- Eis aqui três sementes, da mais bela flor que encontrei. Levem-nas consigo e cuidem para que floresçam belas e formosas. Aquela que trouxer, dentro de um mês, a flor mais bem cuidada, será a minha rainha. 
Um mês depois as três se apresentaram diante do monarca. As duas nobres trouxeram duas belas flores, bem cuidadas e ornadas, dentro de belos vasos, com toda a pompa e luxo. A jovem faxineira veio com um vaso rústico e vazio. Foi então que o rei a questionou:
- Tens coragem de te apresentar diante de mim, com um vaso vazio?
- Sim, meu rei, tenho. Cuidei da semente que me destes com amor e dedicação, acreditando que, diante dos céus, poderia ser abençoada, com uma bela e formosa  flor. Mas, os céus e a natureza não me responderam nem com o mais simples botão. Venho, diante de vós, me apresentar com nada, para confirmar que as pessoas recebem de Deus o seu justo merecimento. E para conhecer quem é a mais digna de nós três, para ser a minha rainha. Pois a ela eu saudarei, e saberei que foi a mais digna de todas as bençãos.
O Rei ordenou que lhe trouxessem um espelho, e o entregou à jovem:
- Contempla então, o rosto de tua rainha, que é a mais abençoada entre todas as mulheres deste reino. Entreguei a vocês três sementes estéreis, incapazes de florecer, apesar dos melhores cuidados. Só tú és digna de ocupar o trono ao meu lado. És a mais formosa entre todas, pois me destes a mais belas de todas as flores. A da honestidade!

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