sábado, 29 de agosto de 2015

As três portas



A vida é um corredor, com três portas. Uma nos leva ao passado, onde entramos em uma grande e confortável biblioteca, com calor, frescor e diversas estantes repletas de livros dos mais diversos tipos, tamanhos e cores; com lições sobre os mais diversos assuntos. Alguns destes livros costumam ficar esquecidos, nos cantos desta sala, e só aparecem quando estamos fuçando, distraidamente, nestas estantes, ou quando resolvemos conscientemente organizar estes livros, limpando-os e tirando a poeira acumulada. Justamente, por ser agradável, devemos cuidar para não ficar muito tempo na segurança desta biblioteca. Sempre que saímos, recebemos alguns créditos (em forma de méritos). Quanto mais tempo demoramos nesta biblioteca, menos méritos nós recebemos.A segunda porta nos conduz a um teatro chamado presente, com plateia, camarote, um imenso palco, com diversos cenários, que são trocados constantemente, de acordo com a cena. Sempre que adentramos neste teatro, temos condições de ficar em qualquer uma destas posições. Depende apenas dos livros que lemos, na biblioteca do passado, e dos méritos adquiridos.
A terceira porta leva a um lago, chamado futuro. Nele podemos beber uma água especial, que nos refresca, lava as nossas feridas, reflete nossos rostos e nos mostra, como cenário de fundo, o céu. Podemos nos banhar, diariamente, neste lago. Mas, é perigoso mergulhar nele. Pois, em seu fundo, existe um imenso polvo, chamado certeza, com vários tentáculos, pronto para nos agarrar, e nos sufocar, até esgotar todas as nossas forças.
Em cada uma destas três portas, há uma placa. Na placa da primeira porta, que conduz à biblioteca, está escrito Herança. Na placa da segunda porta está escrito Coragem; e, na terceira, Fé!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O MELHOR DOS MUNDOS




Dê-me um lápis e algumas folhas de papel, e eu construirei um mundo. Não um mundo de mentira. Um mundo para os sonhadores. Um mundo ideal, reinventado, para todas as crianças, principalmente aquelas com mais de 15 anos, que estivessem perdendo a capacidade de sonhar, pensando que estavam acordando. Mas, só estariam adentrando, cada vez mais, no labirinto da vida, rumo ao abismo do esquecimento. Esse mundo seria criado especialmente para estas crianças velhas, que se perderam de si e começaram a buscar-se no outro. Nele, haveria uma revelação em cada canto, para quem tivesse paciência para ver e ouvir. E as crianças teriam capacidade de conversar com os bichos, com o sol, com a terra, sem dizer uma só palavra. Respirariam devagar, sem engasgarem-se com o ar, ou as palavras. Um mundo onde a internet seria uma grande caverna, na qual ninguém poderia penetrar, mas poderia parar na sua entrada, para perguntar o que quisesse. De lá de dentro uma voz poderosa sempre responderia. Haveria mistério, encantamento e muita humildade, nesta voz. E a resposta mais comum, seria “eu nada sei sobre isso, só ouvi falar à respeito, mas nem sei se é verdade”. Seria um mundo com música, é claro, mas com algumas penumbras de silêncio, também. Mas, neste mundo, também haveriam alguns perigos. Os maiores deles, seriam a certeza e o julgamento. E, em alguns momentos, de forma imprevisível, as crianças seriam beliscadas por alguma coisa invisível, só para ficarem atentas e conscientes. Seria um bom mundo, tenho fé que seria, pois nele eu colocaria o meu pior, com muito humor, e o que há de melhor, com amor.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

MEDITAR


Eu gosto de meditar! É a melhor coisa a fazer, quando o dia começa! Me edito e jogo fora o que está sobrando. É uma autolapidação. O dia parece ficar mais leve, depois desta edição.
Vamos se editar, minha gente!
Só não tente me editar, deixa que eu me edito sozinho.

domingo, 9 de agosto de 2015

Os pais que a vida me deu (ou “Meus Pais postiços”)



Meu pai foi único! Um tipo original e inesquecível. Não tenho dúvidas que o escolhi, antes de chegar neste mundo. Há mais dele em mim do que eu podia imaginar.
Mas, existem outros pais que a vida nos dá, quando escapamos dos olhares dos nossos pais biológicos. Estão presentes, mesmo sem perceberem o quanto nos são importantes, e essenciais. Nos ensinam sem cobrar pelo nosso aprendizado, às vezes cuidam de nós e até nos chamam a atenção porque se importam, ou simplesmente nos apoiam silenciosamente, quando estamos tristes, ou a vida para de fazer sentido, diante de nosso olhar jovem e perplexo.
Tive vários desses pais, pela vida afora. Alguns já partiram, outros continuam por aí, construindo a sua história. Em comum, todos possuem o meu amor, minha admiração, e minha eterna gratidão. Não é difícil falar deles, porque estão presentes em minhas orações todos os dias. Sim, eu rezo! Não da forma como muitos imaginam. Não faço nenhum ritual padronizado, mas tenho certeza que minha oração é das boas. Sempre penso neles, lembro das coisas boas que me fizeram e peço a Deus que cuide deles, onde quer que estejam. Que lhes dê tudo o que precisarem, mesmo que seja o que não queiram. E, principalmente, agradeço por terem cruzado o meu caminho.
Mas, não adianta falar do milagre sem contar o santo (acho isso terrível).
Então, aqui vão os nomes dos meus pais, que me adotaram em momentos essenciais.
O primeiro é o meu tio Borba, casado com minha tia Helena. Sempre esteve presente em minha vida, ajudando meus pais à distância, sem pedir nada em troca. Não dá para enumerar as vezes em que nos socorreu. E, sempre de modo muito discreto, sem fazer alarde ou comentar com o resto da família. Sua forma de se expressar, neste mundo, é ajudando. Sei que, lá no fundo, ele é uma criança alegre, que liga o rádio e dança no quarto, sem que ninguém saiba. Acho que ele dança é pra Deus, e para si, é claro. Quer plateia melhor? Ele nunca saberá como eu sei disso, mas é verdade.
O segundo, foi o Babbo Luciano, pai do meu “amigo (e irmão) de estimação” Umberto Ivan Moriconi. Conheço-o desde os nove anos de idade, e seu pai sempre foi muito presente em minha vida. Sempre gostou de mim, e de meus irmãos, como se fossemos seus filhos, também. Cuidava de nós e, quando nos via, seus olhos brilhavam. Era puro carinho conosco. Com ele eu aprendi a beijar meu pai, e que esse negócio de “homem macho não beija homem” era uma tremenda bobagem. Via meu amigo cumprimentando o “babbo” com um beijo e sentia inveja. Até que criei coragem e comecei a beijar o meu velho piauiense. No início ele estranhou, mas depois isso se tornou um hábito entre nós. Afinal, qual é o pai que não gostaria de ser beijado pelo seu filho? Lembro-me que, certa vez, quando estava com meus vinte e cinco anos de idade (e ainda morava na casa de meus pais), viajei num feriado prolongado e deixei um aviso pregado em um imã de geladeira. Acontece que eu tinha um cachorro muito estabanado, que trombou na geladeira e fez com que o papel caísse em um canto qualquer. Quando regressei, meus pais estavam em polvorosa, desesperados. Na primeira oportunidade que teve, o Babbo Luciano me ligou e deu uma bronca dura e raivosa. Alí eu percebi o quanto o respeitava; pois, escutei tudo em silêncio e só conseguia responder: - Sim, Senhor!
Existiram outros pais postiços que acabaram de me criar, em um ou outro segmento de minha vida: O meu mestre de Kung Fu Marcos Marco Natali Escritor Brasileiro , o Luiz Baccelli, que me adotou como seu “discípulo teatral”, o Luis Alberto de Abreu, que me ensinou que dramaturgia era bem mais do que o simples desejo de escrever, e o Meu Mestre espiritual, que não gosta que eu fale seu nome.
O Natali me influenciou muito quando eu fui um dos professores de sua equipe, na União Nacional de Kung Fu. Sempre me deu total liberdade para atuar, mas nunca me faltava, quando eu precisava de conselhos e orientação. Sua influência sobre mim foi tão marcante, que minha irmã Luiza Albuquerques), quando foi fazer um workshop com ele, comentou: - Sabe, Mimi! Foi interessante ter conhecido o criador depois de já conhecer a criatura!
O Luis Baccelli sempre foi meu amigo, desde a época em que fazíamos teatro amador. Sempre que tinha uma nova conquista ou aprendia alguma coisa nova, fazia questão de compartilhar comigo. Não para se gabar ou ostentar, mas para me ensinar! Ía sempre aos meus espetáculos e me aconselhava e incentivava. Sempre tinha tempo para mim. Até que a gente brigou e ficou sem se falar. Mas, mesmo depois disso, sempre assisti às suas peças e continuei a acompanhar o seu trabalho. Continuei torcendo por ele e, tenho certeza, ele continuou fazendo o mesmo por mim (tive provas disso). Mas, a verdade é que éramos dois cabeçudos. Quando ele faleceu eu estive em seu funeral, para dar-lhe o meu último adeus. Lamentando por não ter sabido antes que ele estava muito doente. Eu teria ido visitá-lo. Ali, diante de seu caixão, a nossa briga ficou muito pequena perto da amizade que um dia tivemos.
O Abreu, meu mestre de dramaturgia, foi outro desses pais. Quando decidi que queria aprender dramaturgia com ele, não larguei do seu pé até conseguir entrar em sua turma. Com ele eu aprendi muito, e segui adiante. Guardo comigo muitas de suas lições. Mas, a maior delas: - Se quer mesmo ser um dramaturgo, sempre desconfie de suas ideias!
E, finalmente, de meu Mestre espiritual, só tenho a dizer que ele me trata por “Meu filho”!