Essa história de se parecer com
alguém às vezes surge em nossa vida de maneira engraçada. Não é
raro nos dizerem coisas do tipo “Você me lembra alguém, mas
eu não sei bem quem é”; e aí fica a dúvida, que até vira
assunto para um bate papo (ou uma cantada barata).
No
meu caso, as pessoas já sabem quem eu lembro, isso quando não me
confundem com a pessoa.
Na
época do Ginásio eu tinha o mesmo lay out que um amigo, o Marco
Antonio Pinto. Hoje a gente não se parece em nada, mas na nossa
adolescência, nos vestíamos de maneira parecida e tinhamos o mesmo
corte de cabelo. Isso não era intencional, mas aconteceu assim. E,
eu me meti em várias encrencas por causa disso. Ele era muito
namorador e eu, tímido, gastava minhas energias treinando Karatê. O
resultado disso é que acabei arrumando pelo menos umas três brigas
por causa dele. Os caras me abordavam pensando que eu era ele. Vinham
tomar satisfação porque ele havia roubado a namorada de algum, e eu
tinha que responder pelo crime. A sorte é que eu sabia me defender e
me virava como podia, pois os chifrudos nunca vinham sozinhos. Só
descobri o mistério tempos depois, quando nos encontramos em uma
mesma festa, e a maioria das pessoas percebeu quem era quem. O pau
parou de comer para o meu lado, mas o Marcos continuou comendo, e
tendo que arcar com as consequências.
Ontem,
ao assistir na TV à “Dona Flor e seus dois maridos”, veio o
comentário: - Nossa, o Nanini está a sua cara, neste personagem!
Já
me disseram que eu lembro o Nanini em algumas ocasiões, mas eu não
vejo nada de parecido.
Em
outras, quando estou de terno, e cabelo curto, me dizem que eu lembro
o Celso Russomano. Aí eu me ofendo, pois não me identifico nem um
pouco com o “menino malufinho”.
Mas,
me saio destas questões com o seguinte argumento: - Gente, eu sou um
ator, me pareço com qualquer pessoa, basta estar bem caracterizado!
Mas,
existe um que foi, por algum tempo, unanimidade: o ator Paulo
Gorgulho. Me compararam com ele durante muito tempo e até as
namoradas diziam: - Mas, não tem diferença, você realmente lembra
muito ele!
Em
1990, na época em que a novela Pantanal estava no ar, na extinta TV
Manchete, aconteceu um fato muito engraçado. O Gorgulho estava
fazendo muito sucesso com o Personagem Zé Lucas do Nada, e eu estava
em cartaz com o espetáculo Rumo a Damaskus, no Centro Cultural São
Paulo.
Eu
interpretava um mendigo que falava latim e aparecia nos momentos mais inusitados, quebrando o clima tenso e gerando
alguma empatia na plateia; e usava barba. No dia que o espetáculo
encerrou a temporada, a primeira coisa que fiz foi me barbear.
Na
manhã seguinte, encontrei um amigo que também estava no elenco –
Roberto de Melo Junior – e ficou incumbido, junto comigo, de
acompanhar a desmontagem do cenário. Nos encontramos bem cedo e,
enquanto descíamos as escadas do Centro Cultural, fomos abordados
por uma atriz que estava ensaiando em uma das salas:
-
Você trabalha no Rumo a Damaskus, e faz o papel do Mendigo?
-
Sim!
-
Qual é o teu nome?
-
Emilio. Emilio Gahma!
-
Gostei muito do teu trabalho, Emilio! Tchau!
-
Reconhecido, hein! Comentou o Beto.
-
E, sem barba! Completei.
Meu
ego chegou nos píncaros. Mal o dia começou, e eu me sentia alguém.
Terminamos
a desmontagem do cenário e me despedi do Beto. Ele acompanhou o
caminhão até o depósito e eu fui em direção à estação estação
de Metrô Vergueiro. No caminho, fui abordado por uma senhora:
-
O senhor poderia me dar o seu autógrafo?
-
A senhora também assistiu ao Rumo a Damaskus. Disse eu, todo
orgulhoso, não cabendo em mim de contente.
-
Não, meu filho! Eu te assisti na novela Pantanal!
Meu
mundo caiu!
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