quarta-feira, 13 de maio de 2015

Gorgulho de ser eu mesmo



Essa história de se parecer com alguém às vezes surge em nossa vida de maneira engraçada. Não é raro nos dizerem coisas do tipo “Você me lembra alguém, mas eu não sei bem quem é”; e aí fica a dúvida, que até vira assunto para um bate papo (ou uma cantada barata).
No meu caso, as pessoas já sabem quem eu lembro, isso quando não me confundem com a pessoa.
Na época do Ginásio eu tinha o mesmo lay out que um amigo, o Marco Antonio Pinto. Hoje a gente não se parece em nada, mas na nossa adolescência, nos vestíamos de maneira parecida e tinhamos o mesmo corte de cabelo. Isso não era intencional, mas aconteceu assim. E, eu me meti em várias encrencas por causa disso. Ele era muito namorador e eu, tímido, gastava minhas energias treinando Karatê. O resultado disso é que acabei arrumando pelo menos umas três brigas por causa dele. Os caras me abordavam pensando que eu era ele. Vinham tomar satisfação porque ele havia roubado a namorada de algum, e eu tinha que responder pelo crime. A sorte é que eu sabia me defender e me virava como podia, pois os chifrudos nunca vinham sozinhos. Só descobri o mistério tempos depois, quando nos encontramos em uma mesma festa, e a maioria das pessoas percebeu quem era quem. O pau parou de comer para o meu lado, mas o Marcos continuou comendo, e tendo que arcar com as consequências.
Ontem, ao assistir na TV à “Dona Flor e seus dois maridos”, veio o comentário: - Nossa, o Nanini está a sua cara, neste personagem!
Já me disseram que eu lembro o Nanini em algumas ocasiões, mas eu não vejo nada de parecido.
Em outras, quando estou de terno, e cabelo curto, me dizem que eu lembro o Celso Russomano. Aí eu me ofendo, pois não me identifico nem um pouco com o “menino malufinho”.
Mas, me saio destas questões com o seguinte argumento: - Gente, eu sou um ator, me pareço com qualquer pessoa, basta estar bem caracterizado!
Mas, existe um que foi, por algum tempo, unanimidade: o ator Paulo Gorgulho. Me compararam com ele durante muito tempo e até as namoradas diziam: - Mas, não tem diferença, você realmente lembra muito ele!
Em 1990, na época em que a novela Pantanal estava no ar, na extinta TV Manchete, aconteceu um fato muito engraçado. O Gorgulho estava fazendo muito sucesso com o Personagem Zé Lucas do Nada, e eu estava em cartaz com o espetáculo Rumo a Damaskus, no Centro Cultural São Paulo.
Eu interpretava um mendigo que falava latim e aparecia nos momentos mais inusitados, quebrando o clima tenso e gerando alguma empatia na plateia; e usava barba. No dia que o espetáculo encerrou a temporada, a primeira coisa que fiz foi me barbear.
Na manhã seguinte, encontrei um amigo que também estava no elenco – Roberto de Melo Junior – e ficou incumbido, junto comigo, de acompanhar a desmontagem do cenário. Nos encontramos bem cedo e, enquanto descíamos as escadas do Centro Cultural, fomos abordados por uma atriz que estava ensaiando em uma das salas:
- Você trabalha no Rumo a Damaskus, e faz o papel do Mendigo?
- Sim!
- Qual é o teu nome?
- Emilio. Emilio Gahma!
- Gostei muito do teu trabalho, Emilio! Tchau!
- Reconhecido, hein! Comentou o Beto.
- E, sem barba! Completei.
Meu ego chegou nos píncaros. Mal o dia começou, e eu me sentia alguém.
Terminamos a desmontagem do cenário e me despedi do Beto. Ele acompanhou o caminhão até o depósito e eu fui em direção à estação estação de Metrô Vergueiro. No caminho, fui abordado por uma senhora:
- O senhor poderia me dar o seu autógrafo?
- A senhora também assistiu ao Rumo a Damaskus. Disse eu, todo orgulhoso, não cabendo em mim de contente.
- Não, meu filho! Eu te assisti na novela Pantanal!
Meu mundo caiu!

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