quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sacerdócio Dionisíaco


Parece engraçado escutar, de algumas pessoas, coisas do tipo: "- Não sei como você consegue fazer teatro. Eu imagino que deva ser desgastante repetir, todas as noites, o mesmo texto. Deve ser monótono, insano!" Só que hoje eu me lembrei que, quando era adolescente, era justamente essa a ideia que eu tinha de teatro. Até que fui em uma apresentação, pela primeira vez, e descobri que não era nada disso. E virei um espectador assíduo daquele fenômeno, que se repetia todas as noite, mas que nunca era o mesmo. Então, um dia eu não me vi mais sentado na plateia. E, de lá de cima, descobri que esta brincadeira de faz de conta era mais do que contar uma bela história. Era voltar ao início de tudo, era reconstruir diariamente a vida. Então, aí eu entendi porque os discípulos do deus grego Dionísio consideravam esta arte como um culto, uma religião. É porque teatro, na sua mais pura essência, é isso: revelação!

sábado, 11 de julho de 2015

Decifra-me ou te devoro!

Nosso país é como uma imensa esfinge, que nos lança enigmas diariamente. Quem consegue responder às questões lançadas, não vê crise, vê oportunidade

Em 1996 tive a oportunidade de trabalhar, por um curto período, para um empresário chinês que me contratou para auxiliá-lo na análise do mercado brasileiro (pretendia exportar para o Brasil). Sua empresa exportava para o Japão e Alemanha (mercados exigentes), e ele tinha grandes planos para o Brasil. Era um homem objetivo, obcecado e determinado. Um autêntico “Tigre Asiático”. Veio com discursos do tipo: - Trabalhe direitinho e, em menos de dois anos você terá o seu Mercedes Benz!
Após algumas semanas de análise, ele bateu em retirada, com a seguinte conclusão: - Tenho que estudar melhor, antes de entrar em seu país. Seu mercado é muito complexo. Nunca mais soube dele. Nos anos seguintes, trabalhei com outras empresas estrangeiras, e obtive excelentes resultados (digo isso sem falsa modéstia, pois as evidências falaram por si). A conclusão a qual cheguei foi a seguinte: De todas aquelas empresas, seja na área comercial ou cultural, com as quais trabalhei, as que obtiveram os melhores resultados por aqui foram aquelas que entraram no nosso país com humildade, dispostas a aprenderem conosco e sobre nós. Aquelas que chegaram com discursos mágicos, com arrogância, e carregando em sua pasta a solução ideal, quebraram a cara. É verdade que temos muito que aprender com outras culturas que deram certo, mas temos também que nos avaliar nos nossos melhores valores. Temos aqui, também, homens geniais, honestos, bons empresários e líderes, que amam nosso país e todo dia acordam dando o seu melhor, mesmo com as adversidades e contra uma corja de políticos que tentam estragar essa bela terra. Digo isso porque conheço alguns, pessoalmente. São pessoas dignas e preciosas, que lidam com essa imensa esfinge, que é o nosso país, e todo dia decifram as questões que ele lhes lança. Cabe concluir, citando a frase do nosso genial Tom Jobim, que conhecia (e amava) esse país como ninguém: “O Brasil não é para amadores!”



sexta-feira, 10 de julho de 2015

Arriscar-se!




"Arriscar-se é tropeçar em si mesmo, sempre. E, há melhor maneira de dar de cara com a gente, pra colocar o papo em dia?"

A lógica costuma ajudar nessas horas. Basta, nesta tropeçada consigo mesmo, se perguntar:

- O que eu tenho, antes de me arriscar?
- Nada!
- E o que eu terei, se me arriscar e falhar?
- Nada!
- Então, o que eu perco, me arriscando?
- Nada!

Simples, né?

terça-feira, 7 de julho de 2015

O andar do Lobo Ferido (trecho)



E com o passar dos anos, ele aprendeu a combater os invejosos com elogios. Tentava enxergar, na mínima ação que fizessem, algum brilho revelador. Quase chegava a acreditar no valor daquilo que dizia. E continuava seu caminho, seguro e sereno. E, os invejosos o fitavam, crentes de que enxergavam um igual. Mas o sol, cruelmente sincero, projetava sua luz sobre todos, e sua sombra destacava-se, onde quer que se posicionasse, para se proteger das intrigas. Foi então que a noite chegou. E, perante a luz da lua cheia, ele percebeu que só lhe restava soltar seu poderoso uivo, que incomodava e ensurdecia os demais, gelando suas espinhas. Se a luz do sol evidenciava a sua sombra, a escuridão da noite a transformava num imenso manto.

Trecho do conto “O andar do Lobo ferido” - Extraído do meu livro “Crônicas dos espíritos da Terra”

Amar

 


Amar é sentir-se novamente uma criança
perdida em uma praia, 
de mãos dadas com outra
nenhuma certeza
só o mar, pela frente

É olhar para o lado e ver,
na outra criança, de iguais perguntas
só a certeza de segurar a sua mão
e mergulhar neste mar sem fundo
certa de que vai chegar

Amar é fé
infantil, e precisa
é saber que pode se sentar
e ver o por do sol
em silêncio

É ter mil anos
e poucos meses
de uma só vez
É poder respirar
com a cabeça no ombro

E paz
o coração batendo a mil
os dedos fincados na areia
em paz

sábado, 4 de julho de 2015

Como nasce uma piada



A gente nunca sabe com certeza como (ou onde) nasce uma piada (ou um boato), mas existe uma que eu tenho quase certeza que vi nascer, pelo contexto do fato. Trabalho com oratória desde 1993 e, apesar de trabalhar muito com um público corporativo, também tenho o público religioso como um dos meus principais nichos (tenho, inclusive, um livro publicado pelas paulinas sobre o assunto). Em alguns períodos, sou convidado a ministrar cursos em alguns seminários e Faculdades católicas, pelo país. Foi numa dessas ocasiões que fui convidado pelo Seminário de Santo Afonso, em Aparecida (SP), para um curso de final de semana, para uma turma de seminaristas. Lá eu conheci o Padre Hilton Furlani (esse aí da foto), que hoje está com 86 anos de idade, e nunca perdeu seu bom humor. Sei disso porque, apesar de não vê-lo há anos, sempre tenho notícias dele. O Padre Furlani, durante o jantar, me contou um dos seus divertidos "causos":
- Professor, o Senhor deve ter percebido que aqui, na entrada do nosso Seminário, temos uma pequena estrada de paralelepípedos. Pois bem, eu ainda era um jovem seminarista quando um candidato a prefeito veio aqui, fazer campanha; e durante o discurso, fez uma promessa: "Eu tenho fé, vocês têm fé, e com as nossas fezes, nós vamos paralelepipeidar este seminário!"
É claro que todos caímos na gargalhada. E eu passei a contar este "causo" em alguns dos meus cursos, para ilustrar alguns tipos broncos de oradores populistas que existem por aí (na sua maioria, políticos).
Outro dia, em um programa humorístico, na TV, um comediante soltou uma piada, onde dizia: "Eu tenho fé, vocês têm fé. E, com as nossas fezes..." E, parou por aí.
A piada até que funcionou, mas, com o "paralelepipeidar", é impagável!