domingo, 27 de dezembro de 2015

2016 - O seu livro do ano novo


Um ano é um livro mágico e especial, de 365 páginas, dividido em 12 capítulos que deve ser lido com muito cuidado. Pois, ao virar cada página, você só poderá contar com sua memória para resgatar o que aprendeu enquanto a lia. Não é possível voltar a determinada página depois de tê-la virado.Por essa razão, você precisa desfrutar de cada página, sem pressa. Deve relê-la no mínimo três vezes. E em cada uma dessas três vezes você deve se fazer três perguntas. Como a leitura desta página pode me ajudar a:
1. Cuidar melhor do meu corpo? Pense em tudo o que se relaciona à sua melhoria e satisfação física (alimentação, esporte, sexo, estética, etc).
2. Cuidar melhor da minha mente? Pense em tudo o que se relaciona à sua melhoria e satisfação intelectual e emocional (estudo, lazer, cultura, família, carreira, projetos pessoais, relacionamentos inter-pessoais, etc).
3. Cuidar melhor do meu espírito? Pense em tudo o que se relaciona ao seu aprimoramento espiritual (estudos filosóficos e religiosos, meditação, orações, etc).

Depois de responder a cada uma dessas perguntas enquanto lê a página do seu dia, você deverá atentar para algumas regrinhas básicas para tirar o melhor proveito desta leitura:


  • Não tenha pressa na sua leitura. Dose a sua energia na leitura de seu livro diário. Aprecie o caminho. A vontade é um tipo de energia que deve ser dosada e devidamente administrada. Quando começamos um projeto com muita vontade, ela se esgota com a empolgação; e acabamos desistindo logo.
  • Ao terminar cada capítulo, reflita sobre ele. Quando observamos como e para onde estamos indo, nossa fé se fortalece e nossa vontade se renova. Tudo aquilo que planejamos faz sentido e o que não é relevante, é descartado. O que tem de ser tem muita força. Quando você faz uma lista do que pretende fazer, no início do ano, e a analisa ao término do mesmo, fica frustrado porque se dá conta de que muita coisa não foi cumprida. Quando avaliamos cada conquista, ao final de cada mês, adaptamos nosso planejamento de acordo com as mudanças e mantemos nossas metas com maior rigor. Nossa dispersão diminui e nossa energia se renova. Capitalizamos as conquistas (o que nos fortifica), aprendemos com os erros (o que nos renova) e descartamos o que não importa (nos limpamos, tiramos o excesso. Ficamos mais leves e ágeis).
  • Pratique o que leu. De nada adianta teorizar a vida. Ela precisa ser vivida. Cem gramas de prática valem mais do que um quilo de teoria. Um dos grandes conflitos do homem moderno é conseguir colocar em prática toda a informação que recebe. Nossa cultura, repleta de informações, nos dispersa e estimula a prática de constantes reuniões e excessivas reflexões. O resultado são grupos de pessoas conectadas às mais diversas redes sociais, que falam rápido, pensam rápido e querem viver a vida de maneira alucinada num único respiro. Buscam avidamente estímulos rápidos e variados, que só fazem aumentar o enorme abismo existente em nossa alma. A satisfação imediata nos impede de degustar o que realmente importa, o explicito nos embota a imaginação e o “espírito de praticidade” nos afasta da vivência (fruto da verdadeira prática). Hoje vivemos no extremo entre a excessiva racionalidade e a fé cega, dogmática vazia de reflexão. Um dos livros mais sábios da humanidade foi escrito pelo poeta grego Hesíodo. Chama-se O trabalho e os dias, e nele o autor nos apresenta preciosas lições de como nos iluminarmos no nosso labor diário, vivendo cada momento como se fosse único, integrados em nosso meio, nosso eco-sistema. Nunca se falou tanto em ecologia e nunca estivemos tão desligados de nosso meio ambiente. Integrar corpo, mente e espírito, nesta ordem de prioridade é a verdadeira forma de se espiritualizar e viver um ano com plenitude e qualidade. O famoso Filósofo e Teólogo Jesuíta Teilhard de Chardin afirmou, certa vez, que: “Somos seres espirituais, vivendo uma experiência terrena, não o contrário.” É fácil alcançar o nirvana vivendo numa floresta, em constante retiro espiritual, ao lado de uma cachoeira e do canto dos pássaros. A verdadeira elevação do espírito deve existir no dia a dia, pagando contas e enfrentando o trânsito, sem se deixar abalar, no coração da tempestade. É preciso praticar, para que a mente e o espírito tenham o que depurar e refinar. O corpo age, a mente depura e o espírito refina.




Feliz ano novo e boa leitura do seu livro!
Emilio Gahma
www.emiliogahma.com.br

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Que "samba do crioulo doido" é esse?


Afinal, que "composição" é essa da qual o senador Delcídio do Amaral andou falando? Em meio a tanta indignação, frases dramáticas, ameaças veladas, essa é uma questão que precisa de resposta, e que a maioria parece ignorar. 

Afinal, por que o Delcídio do Amaral achou que poderia "compor" um "samba do crioulo doido" com alguns ministros do STJ? Será que houve, anteriormente, alguma outra parceria, que rendeu algum outro samba enredo?

Espero sinceramente, parafraseando a Ministra Carmen Lúcia, que "o crime não vença a justiça", mais uma vez. Mas, é preciso cuidar para que a distração não vença as evidências, ou a nossa acuidade. É preciso investigar até as menores hipóteses. Se vamos moralizar o país, é preciso ir a fundo em TODOS os detalhes.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A MUSA DAS VIRGENS DE SARJETA


A MUSA DAS VIRGENS DE SARJETA

Sou o sonho das virgens
esquecidas na calçada
das pequenas, inocentes 
princesinhas de arrabalde



Trago junto do meu peito
muitos sonhos delicados
trago junto dos meus olhos
um caminho sem escolha

Como a noite, preguiçosa
vai colhendo suas histórias
Eu caminho sobre a Terra
respirando nos desejos

Sou a noiva inocente
que cedeu sem ser sagrada
sou a alma das Princesas
de arrabalde, nas calçadas





Trecho do meu texto teatral ”O bloco das mimosas borboletas”
 
(adaptação livre de um conto de Ribeiro Couto)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Poeticamente correto


No domingo passado, estava conversando, em um grupo de amigos, e começamos a discorrer sobre a inveja. Me lembro de ter comentado que também existe o sentimento de admiração, disfarçado de inveja. É quando alguém declara abertamente: - Puxa, eu te invejo por isso!”
Na verdade, o que estamos querendo dizer, geralmente, é que invejamos a realização da pessoa. Mas, não significa que queremos ser como ela.
A verdadeira inveja, a inveja perversa, é aquela em que a pessoa “quer a vida da outra”, a ponto de se tornar destrutiva, com pensamentos do tipo: “se isso não for meu, não será de mais ninguém!”
Alguém rebateu com o seguinte argumento: Não acho isso saudável; esse papo de “boa inveja”.

Inveja é inveja, e pronto! Se a pessoa tem admiração pela outra, deve dizer que admira, no lugar de dizer que tem inveja. Não acho “politicamente correto” usar a palavra inveja como se fosse um elogio.
Foi então que lembrei de um episódio, em que o poeta Carlos Drummond de Andrade encontrou o compositor Nelson Cavaquinho, e se rendeu ao talento do sambista com o seguinte comentário:

- Nelson, sabe aquele trecho do seu samba, a flor e o espinho, que diz “eu só errei quando juntei minha alma à sua. O sol não pode viver perto da lua”? Pois é, Nelson! Eu morro de inveja daquele verso. Eu queria tanto ter escrito isso!

Imagino o quanto este comentário, vindo de um poeta tão renomado como o Drummond, deve ter feito bem à auto estima daquele sambista do morro, humilde e introvertido. Ele deve ter se sentido muito bem com esse tipo de comentário. E, não poderia ter sido dito de melhor maneira. 
Eram tempos em que o coração, e não o moralismo, pesava as palavras. E Drummond sabia disso, como ninguém. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015



"Seguir em frente é mais do que pegar a estrada e ir.
É dar as costas às situações e pessoas que tentarão te prender
através da culpa, do remorso, ou do medo.
Seguir adiante não comunga com nenhuma destas palavras."



Alguns amigos, quando leram isso, me perguntaram se tinha a ver com o final de um relacionamento. De certa forma, sim. Mas, não com o final de um relacionamento amoroso. Foi o final de uma parceria comercial. Pedi demissão e meu chefe tentou, de todas as formas, me convencer a não ir. Aumentou o meu salário, me ofereceu bônus, falou de crise, de instabilidade financeira, de ter uma família e não poder mais me arriscar tanto, com a idade em que estava. Enfim, sei que essas palavras querem dizer dizer bem mais do que isso. Mas, existem coisas que às vezes nascem de fatos banais. Acreditem, na época foi uma escolha importante e decisiva. Hoje, me parece banal!
Eu sei o quanto escolhas como essas podem ser difíceis e dolorosas. Principalmente porque envolvem transformação, em todos os sentidos. A decisão de seguir em frente, quando surge o impulso inexplicável de se ir, tem a ver com o "ter que seguir", porque não se pode carregar o que não mais existe. Então, é impossível ficar. Isso se aplica a situações, a pessoas e a escolhas. Há momentos, em nossa vida, em que estamos confortáveis, mas infelizes, insatisfeitos. Nestes momentos, seja em um emprego estável, em um relacionamento amoroso, em nossa família, junto aos nossos pais, que às vezes colocam diversas expectativas em nossos ombros, seja em relação ao grupo de amigos; enfim, seja na situação que for, às vezes é muito difícil dizer sim a você e um sonoro não às ilusões, em forma de lembranças, que prendem mais do que correntes.
Mas, é assim que deve ser. Seguir em frente é isso! É ignorar os gritos daqueles que te culpam pela própria infelicidade; porque apostaram todas as fichas em você. Perdoe, a elas e a si mesmo, por não saberem que nossas escolhas não envolvem o que simplesmente aconteceu. E “armadilhas” também acontecem, mesmo que para nos ensinar. Então, saia delas e siga! O resto, se conserta. Esse você só tem uma vida, uma chance! Então, vá!

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Plínio Marcos


Hoje faz 80 anos que o Plínio Marcos nasceu. Visceral, risonho, e inquieto. Escrevia para incomodar! Para nos despertar. Sem luxo, sem firulas ou rodeios. Era direto, seco e jornalístico.
Eu o conheci quando ainda era adolescente. Ele foi na minha escola, apresentar “Quando as máquinas param”, um dos seus vários sucessos. Ao final, realizou um debate conosco. Me lembro que ri muito, e chorei. Ele fez o que queria com a nossa emoção. Tinha domínio sobre o público. Me emocionei com aquele baixinho invocado, desbocado e carismático.
No final ele nos disse: - Se eu conseguir sair daqui, hoje, tendo subvertido algum de vocês, já terei cumprido minha missão!
Saí subvertido! Aquela inquietação bateu em mim, me identifiquei.
Pouco depois, por diversas razões, e inspirado também por outras pessoas, comecei a estudar teatro. Comecei a frequentar a livraria do INACEN, que funcionava no Teatro de Arena. Cansei de encontrá-lo por lá. A Beth, que atendia a livraria, guardava sempre as coisas dele.
Nós também nos encontrávamos, vez ou outra, na porta dos teatros, onde ele vendia seus livros, e vinha sempre com o mesmo argumento:
- Compra meu livro que eu te dou um autógrafo, e prometo morrer logo, para valorizar.
- Plínio, tu autografa todos os teus livros. Daqui a pouco, raridade será ter um livro teu que não tenha autógrafo!
Ele, que era rápido de raciocínio, rebateu “na lata”: - Sabe que tu tens razão! Vou passar a cobrar mais pelos livros sem autógrafo.
Em 1985, teve o projeto "Balanço Geral", no Teatro Maria Della Costa, onde foram feitas leituras dramáticas dos principais espetáculos censurados nas últimas décadas. Após as leituras, eram feitos debates e, quando possível, reuniam o elenco original, para dar seu depoimento sobre esta época, em que a censura era ferrenha e atacava o teatro com tudo.
Fui em quase todas essas leituras e, no dia em que leram a "Feira Paulista de Opinião", que apresentava algumas peças curtas dos autores mais polêmicos da época, eu estava na plateia. Uma das peças apresentadas era do Plínio, e ele colocou um gorila, em cena, vestido de militar. Essa cena foi muito comentada durante o debate. Me lembro que, no instante em que o ator Renato Consorte (que havia interpretado o gorila) estava dando o seu depoimento, alguém chegou com a notícia de que o Plínio tinha sofrido um enfarte. O teatro, imediatamente, esvaziou. Todos, preocupados, foram para o hospital, prestar sua solidariedade à família, e ajudar como podiam. Plínio era muito querido por todos. A classe teatral o amava e admirava. E as preces dos amigos foram atendidas. Ele escapou desta.
Em  1999, ele se foi. Me lembro que, nesta época, estava trabalhando como executivo, afastado do teatro há algum tempo, quando lí a notícia pela internet.
- Droga, o Plínio Marcos morreu!
- Quem morreu, Emilio? Me perguntou o meu chefe.
- O Plínio Marcos. Um escritor de teatro.
- Puxa, que pena! Disse o meu chefe, com uma indiferença que chegou a me chocar. Afinal, não era qualquer um que tinha morrido. Foi o Plínio! Meu chefe voltou a passar por minha sala e, ao me ver chorando, quieto, no meu canto, comentou:
- Era seu amigo? Me desculpe, eu não sabia.
- Não tem importância! Não tem mais importância! Respondi, quieto e envergonhado por estar tão distante do teatro, naquela época. Li, na notícia, que ele já andava doente há algum tempo; e eu nem sabia.
Fiquei ali, naquele final de tarde, pensando naquele garoto que o Plínio subvertera, e despertou para as suas lutas cotidianas, contra o embrutecimento do homem. Não demorou nem um ano, e eu saí do emprego e voltei a me envolver novamente com o teatro. Não era mais o mesmo, mas estava de volta. Não voltei por causa do Plínio, é claro. Voltei porque precisava voltar a respirar. Voltei porque aquela parte macia, existente no coração embrutecido de cada homem, da qual o Plínio sempre falava, voltou a incomodar.
Fico imaginando como o Plínio estaria, agora, aos oitenta anos. Em quantas pessoas ainda estaria subvertendo. Hoje, mais do que nunca, ele faz falta!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Além das aparências


"Quer escolher moça bonita? Procure durante a semana.
Porque, de sábado para domingo, toda raposa engana!"

Escutei essa  frase dita pela minha esposa, Maria Ceiça, numa conversa que tivemos durante uma aula de nosso grupo de estudos do Tao, com a Mestra Yu Pi Yueh. Estávamos falando sobre o que é mutável e o imutável. Em determinado momento, o assunto enveredou para a questão das aparências, e em como as pessoas, cada vez mais, estão editando seu perfil, até chegarem ao ponto de não conseguirem mais se reconhecer. E ela me veio com essa frase, que seu avô paterno, filho de índia, costumava dizer. Achei o máximo, principalmente porque dei a sorte de conhecê-la durante a semana.

A sabedoria dos antigos é uma preciosidade, principalmente quando percebemos o quanto de suas lições nos foram passadas de forma natural, e ainda vivem em nós, nos mínimos detalhes do nosso comportamento. E foi o que percebi, naquela hora. No porque ela é tão exigente com a questão da honestidade.

O poder de uma boa história é incalculável. Acho que é por isso que gosto tanto de contar e ouvir um bom "causo".
Para resumir, no final da aula minha esposa encerrou nos contando, também, uma história que ela considerou muito "manjada", mas que para mim, era novidade: A história da mais bela flor.
Gostei tanto que a adaptei, criando alguns elementos que não existem na história e ressaltando alguns pontos que julguei mais relevantes.

Conta que um rei, procurando por uma esposa com as melhores qualidades, pediu que as candidatas se apresentassem. Duas nobres e belas donzelas da corte, consideradas as mais formosas entre todas as mulheres da cidade, se apresentaram imediatamente. As outras nem tiveram coragem de disputar tal previlégio, contra tão dignas concorrentes.
O rei, ao recebê-las, perguntou a todos os presentes, em voz alta: - Nenhuma outra mulher, em todo o meu reino, se julga digna de ser a minha rainha?
Uma jovem faxineira, que estava nos bastidores, ao ouvir tais palavras, se apresentou:
- Me acho digna, Senhor! Pelo que sou e sei, mas não pelo que tenho.
- Nem o teu rei, com toda a sinceridade deste mundo, é capaz de saber realmente todo valor daquilo que tem. Se te achas digna, pelo que és, então eu te aceito entre minhas pretendentes.
Então, o rei propôs uma prova às três candidatas:
- Eis aqui três sementes, da mais bela flor que encontrei. Levem-nas consigo e cuidem para que floresçam belas e formosas. Aquela que trouxer, dentro de um mês, a flor mais bem cuidada, será a minha rainha. 
Um mês depois as três se apresentaram diante do monarca. As duas nobres trouxeram duas belas flores, bem cuidadas e ornadas, dentro de belos vasos, com toda a pompa e luxo. A jovem faxineira veio com um vaso rústico e vazio. Foi então que o rei a questionou:
- Tens coragem de te apresentar diante de mim, com um vaso vazio?
- Sim, meu rei, tenho. Cuidei da semente que me destes com amor e dedicação, acreditando que, diante dos céus, poderia ser abençoada, com uma bela e formosa  flor. Mas, os céus e a natureza não me responderam nem com o mais simples botão. Venho, diante de vós, me apresentar com nada, para confirmar que as pessoas recebem de Deus o seu justo merecimento. E para conhecer quem é a mais digna de nós três, para ser a minha rainha. Pois a ela eu saudarei, e saberei que foi a mais digna de todas as bençãos.
O Rei ordenou que lhe trouxessem um espelho, e o entregou à jovem:
- Contempla então, o rosto de tua rainha, que é a mais abençoada entre todas as mulheres deste reino. Entreguei a vocês três sementes estéreis, incapazes de florecer, apesar dos melhores cuidados. Só tú és digna de ocupar o trono ao meu lado. És a mais formosa entre todas, pois me destes a mais belas de todas as flores. A da honestidade!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Reflexões de um sete de setembro


Meu sete de setembro começou com fé! Com um trecho da "Carta de Paulo aos Coríntios", tão enigmático, quanto verdadeiro (até mesmo para um sete de setembro chuvoso)!


Mas, o Mundo me fez lembrar do menino sírio Aylan Kurdi. Me bateu uma tristeza, misturada com revolta.



terça-feira, 1 de setembro de 2015

A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS


Em uma época onde as pessoas formam clubes, diversas tribos, e julgam que suas facções são as únicas que possuem a verdade absoluta; onde as pessoas discriminam uma às outras por discordarem de seus paradigmas, acho fundamental postar o discurso de Krishnamurti, ao dissolver a Ordem da Estrela, em 1929. Antes, porém, é necessário conhecer mais sobre este que, um dia, foi considerado pelo Teosofistas, como um dos futuros Mestres do Mundo.

Jiddu Krishnamurti (telugu: జిడ్డు కృష్ణ మూర్తి) (Madanapalle, 11 de maio de 1895 — Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global.
Com a idade de treze anos, passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava um dos grandes Mestres do mundo. Em Adyar, Krishnamurti, foi 'descoberto' por Charles W. Leadbeater, famoso membro da Sociedade Teosófica (ST), em abril de 1909, que, após diversos encontros com o menino, viu que ele estava talhado para se tornar o 'Instrutor do Mundo', acontecimento que vinha sendo aguardado pelos teosofistas. Após dois anos, em 1911 foi fundada a Ordem Internacional da Estrela do Oriente, com Krishnamurti como chefe, que tinha como objetivo reunir aqueles que acreditavam nesse acontecimento e preparar a opinião pública para o seu aparecimento, com a doação de diversas propriedades e somas em dinheiro. Em 3 de agosto de 1929, dia da abertura do Acampamento Anual da Estrela, em Ommen, Holanda, Krishnamurti dissolveu a Ordem diante de 3.000 membros, alegando que nenhuma instituição pode nos levar mais próximos da verdade. Abaixo está o texto completo da palestra que ele deu naquela ocasião.


A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS
(O discurso da Dissolução)

Jiddu Krishnamurti

O Acampamento de Ommen em 1929 iniciou seus trabalhos no dia 2 de agosto numa atmosfera de tensão e expectativa, quando a maioria das pessoas ali presentes compreendia o que ia acontecer. Na manhã seguinte, em presença da Sra. Besant, de mais de três mil membros da Estrela, e com muitos milhares de holandeses ouvindo pelo rádio, Krishnamurti fez o discurso em que dissolveu a Ordem da Estrela:

“Vamos discutir hoje a dissolução da Ordem da Estrela. Muitos ficarão encantados, tristes. Não se trata, porém, de uma questão de regozijo nem tristeza, porque é inevitável, como passarei explicar...
Sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vós não podeis aproximar-vos dela por nenhum caminho, por nenhuma seita. Esse é o meu ponto de vista e eu o sigo de modo absoluto e incondicional. Não tendo limites, não sendo condicionada e não sendo acessível por nenhuma espécie de caminho, a Verdade não pode ser organizada; nem se deve formar nenhuma organização para levar ou forçar as pessoas a enveredar por determinado caminho. Se compreendeis isso em primeiro lugar, vereis que é impossível organizar a crença. A crença é uma questão puramente individual, e não podeis nem deveis organizá-la.
Se o fizerdes, ela morrerá cristalizar-se-á; tornar-se-á um credo, uma seita, uma religião, para ser imposta a outros. Isso é o que toda a gente, no mundo inteiro, está tentando fazer. Acanha-se a Verdade e transforma-se em brinquedo para os fracos, para os momentaneamente insatisfeitos. A Verdade não pode ser trazida cá para baixo, o indivíduo é que deve fazer um esforço para subir até ele. Não podeis trazer o topo da montanha ao vale...
Portanto, esta é a primeira razão, do meu ponto de vista, pela qual a Ordem da Estrela deve ser dissolvida. Apesar disso, formareis provavelmente outras Ordens, continuareis a pertencer a outras organizações à procura da Verdade. Não quero pertencer a nenhuma organização espiritual; compreendei-me isso, por favor...
Se se criar uma organização com esse propósito, ela se tornará uma muleta, uma fraqueza, uma servidão, estropiará o indivíduo e o impedirá de crescer, de firmar sua unicidade, que reside no descobrimento, para si mesmo, da Verdade absoluta, não condicionada. Portanto, essa é outra razão que me leva, como chefe da Ordem, a querer dissolvê-la.
Não se trata de um feito magnífico, porque não quero seguidores, e estou falando sério. A partir do momento em que seguirdes alguém deixareis de seguir a Verdade. Não me preocupa saber se prestais ou não atenção ao que digo. Quero fazer certa coisa no mundo e vou fazê-la com pertinaz concentração. Só me preocupa uma coisa essencial: libertar o homem. Desejo libertá-lo de todas as gaiolas, de todos os temores, e não fundar religiões, novas seitas, nem estabelecer novas teorias e novas filosofias. Diante disso, perguntar-me eis, naturalmente, por que percorro o mundo todo, falando sem parar. Eu vos direi por que o faço; não o faço por desejar um séquito, não o faço por almejar um grupo especial de discípulos especiais. (Os homens gostam de ser diferentes dos seus semelhantes, por mais ridículas, absurdas e triviais que possam ser as distinções! Não quero estimular essa absurdeza.) Não tenho discípulos, nem apóstolos, nem na terra nem no reino da espiritualidade.
Tampouco me atrai o fascínio do dinheiro ou o desejo de levar urna vida confortável. Se eu quisesse levar uma vida confortável, não viria a um Acampamento nem viveria num país úmido! Estou falando com franqueza porque pretendo deixar isto resolvido de uma vez por todas. Não quero saber dessas discussões infantis ano após ano. Um repórter de jornal, que me entrevistou, considerou um ato magnífico dissolver uma organização que possuía milhares e milhares de membros. No seu entender foi um grande ato porque ele disse: "Que fará o senhor depois disso? Como viverá? Não terá quem o siga, ninguém mais lhe dará atenção.” Bastará que haja cinco pessoas desejosas de prestar atenção, desejosas de viver, com o rosto voltado para a eternidade! Que adianta ter milhares que não compreendem, que estão totalmente embalsamados em preconceitos, que só querem o novo para traduzi-lo e, assim, adequá-lo aos seus próprios egos estéreis e estagnados?...
Porque sou livre, não condicionado, total, não a parte, não o relativo, mas a Verdade total, que é eterna, desejo que os que procuram compreender-me sejam livres, não me sigam, não façam de mim a gaiola que se converterá em religião, em Seita. Desejo que sejam livres de todos os medos – do medo da religião, do medo da salvação, do medo da espiritualidade,
do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida. Assim como o
artista pinta um quadro por encontrar deleite na pintura, por ser ela a expressão de si mesmo, sua glória, seu bem-estar, assim não faço isto por desejar alguma coisa de alguém. Estais acostumados à autoridade, ou à atmosfera da autoridade que, cuidais, vos levará à espiritualidade. Pensais e esperais que outra pessoa, por seus poderes extraordinários – um milagre – possa transportar-vos ao reino da liberdade eterna que é a Felicidade. Toda avossa maneira de encarar a vida se baseia nessa autoridade.Faz hoje três anos que me ouvis, sem que nenhuma alteração se tenha verificado, a não ser em poucos. Analisai agora o que estou dizendo, sede críticos, para poderdes compreender cabalmente, fundamentalmente...
Há dezoito anos que vos preparais para este acontecimento, para o Advento do Mestre Universal. Durante dezoito anos organizastes alguém capaz de proporcionar um novo deleite aos vossos corações e às vossas mentes, de transformar a vossa vida, de dar-vos uma nova compreensão; alguém que vos elevasse a um novo plano de vida, que vos desse um novo incentivo, que vos libertasse – e vede agora o que está acontecendo! Considerai, raciocinai e descobri como foi que essa crença vos tornou diferentes – não com a diferença
superficial do uso de uma insígnia, que e' trivial, absurda. Como foi que essa crença varreu para longe todas as coisas não essenciais da vida? Esta é a única maneira de julgar: como foi que vos tornastes mais livres, maiores, mais perigosos para toda sociedade que se baseia no falso e no não essencial? Como foi que se tornaram diferentes os membros desta organização da Estrela?...
Todos dependeis, para a vossa espiritualidade, de outra pessoa; para a vossa felicidade, de outra pessoa; para a vossa iluminação, de outra pessoa... Quando digo buscai dentro de vós a iluminação, a glória, a purificação e a incorruptibilidade do ego, nenhum de vós se dispõe a fazê-lo. Talvez haja uns poucos, mas são muito, muito poucos. Assim sendo, por que ter uma organização?... Nenhum homem de fora pode libertar-vos; nem o culto organizado, nem a vossa imolação por uma causa poderão libertar-vos; como também não poderá libertar-vos o ingresso numa organização, o envolvimento no trabalho. Usais uma máquina de escrever para redigir cartas, porém não a colocais num altar e não a adorais. Mas é isso o que fazeis quando as organizações passam a ser vossa principal preocupação. "Quantos membros há nela?" É a primeira pergunta que me formulam todos os repórteres de jornais. "Quantos seguidores tem o senhor? Pelo número deles julgaremos se o que diz é' verdadeiro ou falso." Não sei quantos há. Não me preocupo com isso. Se houvesse apenas um homem que se tivesse libertado, este já seria o suficiente.
Além disso, tendes a ideia de que somente certas pessoas tem a chave do Reino da Felicidade. Ninguém a tem. Ninguém tem autoridade para trazê-la consigo. Essa chave é o vosso eu, e só no desenvolvimento, na purificação e na incorruptibilidade desse eu se encontra o Reino da Eternidade...
Estais acostumados a que vos digam até onde chegou o vosso progresso, qual o vosso status espiritual. Quanta infantilidade! Quem, se não vós mesmos, podeis dizer se sois ou não incorruptíveis?...
Mas os que realmente desejam compreender, que estão buscando o eterno, o sem começo e sem fim, caminharão juntos com maior intensidade, serão um perigo para tudo o que não é essencial, as irrealidades e as sombras. E eles se concentrarão, tornar-se-ão a chama, porque compreendem. Tal é o corpo que precisamos criar e tal é o meu propósito. Por causa dessa amizade verdadeira – que pareceis não conhecer – haverá uma cooperação verdadeira da parte de cada um. Não em virtude da autoridade, não em virtude da salvação, mas porque compreendeis realmente e, portanto, sois capazes de viver no eterno. Isto, sim, é maior do que todo o prazer, do que todo o sacrifício.
Eis aí, portanto, algumas das razões por que, depois de dois anos de cuidadosaconsideração, tomei essa decisão. Ela não partiu de um impulso momentâneo. Ninguém me persuadiu a tomá-la – ninguém me persuade a fazer essas coisas. Por dois anos venho pensando nisso, lenta, cuidadosa, pacientemente, e agora decidi dissolver a Ordem, visto que sou o Chefe. Podereis formar outras organizações e esperar outra pessoa. Isso não me interessa, como também não me interessa a criação de novas gaiolas e novas decorações para as gaiolas. Minha preocupação é formar homens absoluta e incondicionalmente livres.

sábado, 29 de agosto de 2015

As três portas



A vida é um corredor, com três portas. Uma nos leva ao passado, onde entramos em uma grande e confortável biblioteca, com calor, frescor e diversas estantes repletas de livros dos mais diversos tipos, tamanhos e cores; com lições sobre os mais diversos assuntos. Alguns destes livros costumam ficar esquecidos, nos cantos desta sala, e só aparecem quando estamos fuçando, distraidamente, nestas estantes, ou quando resolvemos conscientemente organizar estes livros, limpando-os e tirando a poeira acumulada. Justamente, por ser agradável, devemos cuidar para não ficar muito tempo na segurança desta biblioteca. Sempre que saímos, recebemos alguns créditos (em forma de méritos). Quanto mais tempo demoramos nesta biblioteca, menos méritos nós recebemos.A segunda porta nos conduz a um teatro chamado presente, com plateia, camarote, um imenso palco, com diversos cenários, que são trocados constantemente, de acordo com a cena. Sempre que adentramos neste teatro, temos condições de ficar em qualquer uma destas posições. Depende apenas dos livros que lemos, na biblioteca do passado, e dos méritos adquiridos.
A terceira porta leva a um lago, chamado futuro. Nele podemos beber uma água especial, que nos refresca, lava as nossas feridas, reflete nossos rostos e nos mostra, como cenário de fundo, o céu. Podemos nos banhar, diariamente, neste lago. Mas, é perigoso mergulhar nele. Pois, em seu fundo, existe um imenso polvo, chamado certeza, com vários tentáculos, pronto para nos agarrar, e nos sufocar, até esgotar todas as nossas forças.
Em cada uma destas três portas, há uma placa. Na placa da primeira porta, que conduz à biblioteca, está escrito Herança. Na placa da segunda porta está escrito Coragem; e, na terceira, Fé!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O MELHOR DOS MUNDOS




Dê-me um lápis e algumas folhas de papel, e eu construirei um mundo. Não um mundo de mentira. Um mundo para os sonhadores. Um mundo ideal, reinventado, para todas as crianças, principalmente aquelas com mais de 15 anos, que estivessem perdendo a capacidade de sonhar, pensando que estavam acordando. Mas, só estariam adentrando, cada vez mais, no labirinto da vida, rumo ao abismo do esquecimento. Esse mundo seria criado especialmente para estas crianças velhas, que se perderam de si e começaram a buscar-se no outro. Nele, haveria uma revelação em cada canto, para quem tivesse paciência para ver e ouvir. E as crianças teriam capacidade de conversar com os bichos, com o sol, com a terra, sem dizer uma só palavra. Respirariam devagar, sem engasgarem-se com o ar, ou as palavras. Um mundo onde a internet seria uma grande caverna, na qual ninguém poderia penetrar, mas poderia parar na sua entrada, para perguntar o que quisesse. De lá de dentro uma voz poderosa sempre responderia. Haveria mistério, encantamento e muita humildade, nesta voz. E a resposta mais comum, seria “eu nada sei sobre isso, só ouvi falar à respeito, mas nem sei se é verdade”. Seria um mundo com música, é claro, mas com algumas penumbras de silêncio, também. Mas, neste mundo, também haveriam alguns perigos. Os maiores deles, seriam a certeza e o julgamento. E, em alguns momentos, de forma imprevisível, as crianças seriam beliscadas por alguma coisa invisível, só para ficarem atentas e conscientes. Seria um bom mundo, tenho fé que seria, pois nele eu colocaria o meu pior, com muito humor, e o que há de melhor, com amor.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

MEDITAR


Eu gosto de meditar! É a melhor coisa a fazer, quando o dia começa! Me edito e jogo fora o que está sobrando. É uma autolapidação. O dia parece ficar mais leve, depois desta edição.
Vamos se editar, minha gente!
Só não tente me editar, deixa que eu me edito sozinho.

domingo, 9 de agosto de 2015

Os pais que a vida me deu (ou “Meus Pais postiços”)



Meu pai foi único! Um tipo original e inesquecível. Não tenho dúvidas que o escolhi, antes de chegar neste mundo. Há mais dele em mim do que eu podia imaginar.
Mas, existem outros pais que a vida nos dá, quando escapamos dos olhares dos nossos pais biológicos. Estão presentes, mesmo sem perceberem o quanto nos são importantes, e essenciais. Nos ensinam sem cobrar pelo nosso aprendizado, às vezes cuidam de nós e até nos chamam a atenção porque se importam, ou simplesmente nos apoiam silenciosamente, quando estamos tristes, ou a vida para de fazer sentido, diante de nosso olhar jovem e perplexo.
Tive vários desses pais, pela vida afora. Alguns já partiram, outros continuam por aí, construindo a sua história. Em comum, todos possuem o meu amor, minha admiração, e minha eterna gratidão. Não é difícil falar deles, porque estão presentes em minhas orações todos os dias. Sim, eu rezo! Não da forma como muitos imaginam. Não faço nenhum ritual padronizado, mas tenho certeza que minha oração é das boas. Sempre penso neles, lembro das coisas boas que me fizeram e peço a Deus que cuide deles, onde quer que estejam. Que lhes dê tudo o que precisarem, mesmo que seja o que não queiram. E, principalmente, agradeço por terem cruzado o meu caminho.
Mas, não adianta falar do milagre sem contar o santo (acho isso terrível).
Então, aqui vão os nomes dos meus pais, que me adotaram em momentos essenciais.
O primeiro é o meu tio Borba, casado com minha tia Helena. Sempre esteve presente em minha vida, ajudando meus pais à distância, sem pedir nada em troca. Não dá para enumerar as vezes em que nos socorreu. E, sempre de modo muito discreto, sem fazer alarde ou comentar com o resto da família. Sua forma de se expressar, neste mundo, é ajudando. Sei que, lá no fundo, ele é uma criança alegre, que liga o rádio e dança no quarto, sem que ninguém saiba. Acho que ele dança é pra Deus, e para si, é claro. Quer plateia melhor? Ele nunca saberá como eu sei disso, mas é verdade.
O segundo, foi o Babbo Luciano, pai do meu “amigo (e irmão) de estimação” Umberto Ivan Moriconi. Conheço-o desde os nove anos de idade, e seu pai sempre foi muito presente em minha vida. Sempre gostou de mim, e de meus irmãos, como se fossemos seus filhos, também. Cuidava de nós e, quando nos via, seus olhos brilhavam. Era puro carinho conosco. Com ele eu aprendi a beijar meu pai, e que esse negócio de “homem macho não beija homem” era uma tremenda bobagem. Via meu amigo cumprimentando o “babbo” com um beijo e sentia inveja. Até que criei coragem e comecei a beijar o meu velho piauiense. No início ele estranhou, mas depois isso se tornou um hábito entre nós. Afinal, qual é o pai que não gostaria de ser beijado pelo seu filho? Lembro-me que, certa vez, quando estava com meus vinte e cinco anos de idade (e ainda morava na casa de meus pais), viajei num feriado prolongado e deixei um aviso pregado em um imã de geladeira. Acontece que eu tinha um cachorro muito estabanado, que trombou na geladeira e fez com que o papel caísse em um canto qualquer. Quando regressei, meus pais estavam em polvorosa, desesperados. Na primeira oportunidade que teve, o Babbo Luciano me ligou e deu uma bronca dura e raivosa. Alí eu percebi o quanto o respeitava; pois, escutei tudo em silêncio e só conseguia responder: - Sim, Senhor!
Existiram outros pais postiços que acabaram de me criar, em um ou outro segmento de minha vida: O meu mestre de Kung Fu Marcos Marco Natali Escritor Brasileiro , o Luiz Baccelli, que me adotou como seu “discípulo teatral”, o Luis Alberto de Abreu, que me ensinou que dramaturgia era bem mais do que o simples desejo de escrever, e o Meu Mestre espiritual, que não gosta que eu fale seu nome.
O Natali me influenciou muito quando eu fui um dos professores de sua equipe, na União Nacional de Kung Fu. Sempre me deu total liberdade para atuar, mas nunca me faltava, quando eu precisava de conselhos e orientação. Sua influência sobre mim foi tão marcante, que minha irmã Luiza Albuquerques), quando foi fazer um workshop com ele, comentou: - Sabe, Mimi! Foi interessante ter conhecido o criador depois de já conhecer a criatura!
O Luis Baccelli sempre foi meu amigo, desde a época em que fazíamos teatro amador. Sempre que tinha uma nova conquista ou aprendia alguma coisa nova, fazia questão de compartilhar comigo. Não para se gabar ou ostentar, mas para me ensinar! Ía sempre aos meus espetáculos e me aconselhava e incentivava. Sempre tinha tempo para mim. Até que a gente brigou e ficou sem se falar. Mas, mesmo depois disso, sempre assisti às suas peças e continuei a acompanhar o seu trabalho. Continuei torcendo por ele e, tenho certeza, ele continuou fazendo o mesmo por mim (tive provas disso). Mas, a verdade é que éramos dois cabeçudos. Quando ele faleceu eu estive em seu funeral, para dar-lhe o meu último adeus. Lamentando por não ter sabido antes que ele estava muito doente. Eu teria ido visitá-lo. Ali, diante de seu caixão, a nossa briga ficou muito pequena perto da amizade que um dia tivemos.
O Abreu, meu mestre de dramaturgia, foi outro desses pais. Quando decidi que queria aprender dramaturgia com ele, não larguei do seu pé até conseguir entrar em sua turma. Com ele eu aprendi muito, e segui adiante. Guardo comigo muitas de suas lições. Mas, a maior delas: - Se quer mesmo ser um dramaturgo, sempre desconfie de suas ideias!
E, finalmente, de meu Mestre espiritual, só tenho a dizer que ele me trata por “Meu filho”!

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sacerdócio Dionisíaco


Parece engraçado escutar, de algumas pessoas, coisas do tipo: "- Não sei como você consegue fazer teatro. Eu imagino que deva ser desgastante repetir, todas as noites, o mesmo texto. Deve ser monótono, insano!" Só que hoje eu me lembrei que, quando era adolescente, era justamente essa a ideia que eu tinha de teatro. Até que fui em uma apresentação, pela primeira vez, e descobri que não era nada disso. E virei um espectador assíduo daquele fenômeno, que se repetia todas as noite, mas que nunca era o mesmo. Então, um dia eu não me vi mais sentado na plateia. E, de lá de cima, descobri que esta brincadeira de faz de conta era mais do que contar uma bela história. Era voltar ao início de tudo, era reconstruir diariamente a vida. Então, aí eu entendi porque os discípulos do deus grego Dionísio consideravam esta arte como um culto, uma religião. É porque teatro, na sua mais pura essência, é isso: revelação!

sábado, 11 de julho de 2015

Decifra-me ou te devoro!

Nosso país é como uma imensa esfinge, que nos lança enigmas diariamente. Quem consegue responder às questões lançadas, não vê crise, vê oportunidade

Em 1996 tive a oportunidade de trabalhar, por um curto período, para um empresário chinês que me contratou para auxiliá-lo na análise do mercado brasileiro (pretendia exportar para o Brasil). Sua empresa exportava para o Japão e Alemanha (mercados exigentes), e ele tinha grandes planos para o Brasil. Era um homem objetivo, obcecado e determinado. Um autêntico “Tigre Asiático”. Veio com discursos do tipo: - Trabalhe direitinho e, em menos de dois anos você terá o seu Mercedes Benz!
Após algumas semanas de análise, ele bateu em retirada, com a seguinte conclusão: - Tenho que estudar melhor, antes de entrar em seu país. Seu mercado é muito complexo. Nunca mais soube dele. Nos anos seguintes, trabalhei com outras empresas estrangeiras, e obtive excelentes resultados (digo isso sem falsa modéstia, pois as evidências falaram por si). A conclusão a qual cheguei foi a seguinte: De todas aquelas empresas, seja na área comercial ou cultural, com as quais trabalhei, as que obtiveram os melhores resultados por aqui foram aquelas que entraram no nosso país com humildade, dispostas a aprenderem conosco e sobre nós. Aquelas que chegaram com discursos mágicos, com arrogância, e carregando em sua pasta a solução ideal, quebraram a cara. É verdade que temos muito que aprender com outras culturas que deram certo, mas temos também que nos avaliar nos nossos melhores valores. Temos aqui, também, homens geniais, honestos, bons empresários e líderes, que amam nosso país e todo dia acordam dando o seu melhor, mesmo com as adversidades e contra uma corja de políticos que tentam estragar essa bela terra. Digo isso porque conheço alguns, pessoalmente. São pessoas dignas e preciosas, que lidam com essa imensa esfinge, que é o nosso país, e todo dia decifram as questões que ele lhes lança. Cabe concluir, citando a frase do nosso genial Tom Jobim, que conhecia (e amava) esse país como ninguém: “O Brasil não é para amadores!”



sexta-feira, 10 de julho de 2015

Arriscar-se!




"Arriscar-se é tropeçar em si mesmo, sempre. E, há melhor maneira de dar de cara com a gente, pra colocar o papo em dia?"

A lógica costuma ajudar nessas horas. Basta, nesta tropeçada consigo mesmo, se perguntar:

- O que eu tenho, antes de me arriscar?
- Nada!
- E o que eu terei, se me arriscar e falhar?
- Nada!
- Então, o que eu perco, me arriscando?
- Nada!

Simples, né?

terça-feira, 7 de julho de 2015

O andar do Lobo Ferido (trecho)



E com o passar dos anos, ele aprendeu a combater os invejosos com elogios. Tentava enxergar, na mínima ação que fizessem, algum brilho revelador. Quase chegava a acreditar no valor daquilo que dizia. E continuava seu caminho, seguro e sereno. E, os invejosos o fitavam, crentes de que enxergavam um igual. Mas o sol, cruelmente sincero, projetava sua luz sobre todos, e sua sombra destacava-se, onde quer que se posicionasse, para se proteger das intrigas. Foi então que a noite chegou. E, perante a luz da lua cheia, ele percebeu que só lhe restava soltar seu poderoso uivo, que incomodava e ensurdecia os demais, gelando suas espinhas. Se a luz do sol evidenciava a sua sombra, a escuridão da noite a transformava num imenso manto.

Trecho do conto “O andar do Lobo ferido” - Extraído do meu livro “Crônicas dos espíritos da Terra”

Amar

 


Amar é sentir-se novamente uma criança
perdida em uma praia, 
de mãos dadas com outra
nenhuma certeza
só o mar, pela frente

É olhar para o lado e ver,
na outra criança, de iguais perguntas
só a certeza de segurar a sua mão
e mergulhar neste mar sem fundo
certa de que vai chegar

Amar é fé
infantil, e precisa
é saber que pode se sentar
e ver o por do sol
em silêncio

É ter mil anos
e poucos meses
de uma só vez
É poder respirar
com a cabeça no ombro

E paz
o coração batendo a mil
os dedos fincados na areia
em paz

sábado, 4 de julho de 2015

Como nasce uma piada



A gente nunca sabe com certeza como (ou onde) nasce uma piada (ou um boato), mas existe uma que eu tenho quase certeza que vi nascer, pelo contexto do fato. Trabalho com oratória desde 1993 e, apesar de trabalhar muito com um público corporativo, também tenho o público religioso como um dos meus principais nichos (tenho, inclusive, um livro publicado pelas paulinas sobre o assunto). Em alguns períodos, sou convidado a ministrar cursos em alguns seminários e Faculdades católicas, pelo país. Foi numa dessas ocasiões que fui convidado pelo Seminário de Santo Afonso, em Aparecida (SP), para um curso de final de semana, para uma turma de seminaristas. Lá eu conheci o Padre Hilton Furlani (esse aí da foto), que hoje está com 86 anos de idade, e nunca perdeu seu bom humor. Sei disso porque, apesar de não vê-lo há anos, sempre tenho notícias dele. O Padre Furlani, durante o jantar, me contou um dos seus divertidos "causos":
- Professor, o Senhor deve ter percebido que aqui, na entrada do nosso Seminário, temos uma pequena estrada de paralelepípedos. Pois bem, eu ainda era um jovem seminarista quando um candidato a prefeito veio aqui, fazer campanha; e durante o discurso, fez uma promessa: "Eu tenho fé, vocês têm fé, e com as nossas fezes, nós vamos paralelepipeidar este seminário!"
É claro que todos caímos na gargalhada. E eu passei a contar este "causo" em alguns dos meus cursos, para ilustrar alguns tipos broncos de oradores populistas que existem por aí (na sua maioria, políticos).
Outro dia, em um programa humorístico, na TV, um comediante soltou uma piada, onde dizia: "Eu tenho fé, vocês têm fé. E, com as nossas fezes..." E, parou por aí.
A piada até que funcionou, mas, com o "paralelepipeidar", é impagável!